O debate nos comentários de Facebook dos candidatos à prefeitura de Curitiba em 2016.

Eduardo Guimarães e João Guilherme Frey.

(Post de 21/04/2017 migrado do antigo site do CPOP)

Impelida pelo protagonismo das redes sociais na campanha presidencial de Barack Obama, nos Estados Unidos em 2008, a reforma política brasileira de 2009 liberou e regulamentou o uso da internet nas campanhas eleitorais. Antes da regulamentação, entretanto, desde 2002 os candidatos já vinham “se apropriando progressivamente da rede como canal de comunicação política” (Bachini et al. 2012). A primeira experiência nesse sentido no país foi a campanha de José Serra à Presidência da República, em 2002, que criou o “Pelotão 45” como forma de agregar apoiadores à candidatura (ALDÉ e BORGES, 2003 apud Bachini et al. 2012).

Neste cenário de crescimento paulatino do uso da internet nas campanhas eleitorais, o Facebook tem ganhado cada vez mais terreno. Ao analisar as eleições municipais de 2012, Braga e Becher (2013), apontam que depois do e-mail, o Facebook foi a ferramenta digital mais utilizada pelos candidatos a vereador nas capitais brasileiras. Pela primeira vez a rede social ultrapassou os websites na lista de ferramentas de interação preferidas dos candidatos.

O contexto da análise aqui proposta é a disputa eleitoral para a prefeitura de Curitiba em 2016 e seu foco é o modo como internautas e as campanhas utilizaram as hashtags para valorizar seu candidato ou depreciar candidatos adversários.

Como já destacado no texto anterior publicado aqui neste espaço – que também analisou o uso de hashtags na mesma campanha eleitoral – é fundamental frisar que dos mais de cem mil comentários postados nas páginas dos oito candidatos que disputaram a prefeitura de Curitiba em 2016, apenas 4.503 continham o uso de hashtags associadas aos nomes dos candidatos.

A análise a seguir concentra-se nas referências aos três principais candidatos do pleito: Rafael Greca (PMN); Ney Leprevost (PSD); e Gustavo Fruet (PDT). Juntos, esses políticos respondem por 98% do total de citações em hashtags.

A predominância de Rafael Greca

Feito o destaque a respeito da pouca incidência de hashtags em relação ao número total de comentários, aponta-se dentro deste escopo reduzido a predominância de citações ao então candidato – e agora prefeito – Rafael Greca (PMN). Sozinho, Greca responde por 85% das citações em hashtag.

Gráfico 1: Menções ao candidato Rafael Greca por valência positiva, negativa ou neutra

Fonte: Grupo CPOP

Além de liderar com folga as citações, o candidato do PMN também guarda a melhor relação entre citações em comentários positivos e negativos. 96,8% das referências a Greca foram elogiosas; apenas 2% negativas e 1,3% neutras.

Nas citações positivas em hashtags é possível identificar a influência que a campanha do candidato teve sobre seus eleitores seguidores do Facebook. Das 3756 menções elogiosas ao candidato, 2334, o equivalente a 62%, são cópias ou pequenas variações de #VoltaGreca33, a hashtag utilizada nos posts da equipe de campanha.

A atuação da equipe do próprio candidato também deve ser levada em conta nesta análise. Ainda que não tenha sido possível quantificar as hashtags positivas em comentários que foram postadas pela própria equipe de comunicação, percebe-se que este tipo de interação exerce impacto significativo na conta final.

O baixo desempenho do candidato incumbente

Nas eleições de 2016, Gustavo Fruet (PDT) buscava se reeleger para o cargo de prefeito de Curitiba, mas acabou derrotado ainda no primeiro do pleito. Nas citações em hashtags, o desempenho do candidato também ficou abaixo de seus concorrentes.

Gráf. 2: Menções ao candidato Gustavo Fruet por valência positiva, negativa ou neutra

Fonte: Grupo CPOP

Destaca-se o fato de o candidato, mesmo sendo o prefeito em exercício, ter sido citado apenas em 468 hashtags, 10,3% do total. Nestas referências, o incumbente foi também o que teve a maior taxa de menções negativas, o equivalente a 29,9% das referências.

Por fim, também foram analisadas as referências ao candidato Ney Leprevost (PSD), que passou ao segundo turno, mas foi derrotado por Rafael Greca. Leprevost foi, entre os três principais candidatos, o que menos foi citado em hashtags. Ao todo, seu nome apareceu em 194 hashtags, o equivalente 4,3% do total.

Gráf. 3: Menções ao candidato Ney Leprevost por valência positiva, negativa ou neutra

Fonte: Grupo CPOP

Em relação às valências, destaca-se no caso de Leprevost a alta incidência de menções neutras, que chegaram a 32,5% do total, contra 58,8% de positivas e 8,8% de negativas. Esse fato decorre da opção da equipe por assinar os comentários com #EquipeNL, ao contrário da equipe de Greca, que assinava, primordialmente, com uma hashtag de valência positiva #VoltaGreca33.

REFERÊNCIAS

BACHINI, N.; PENTEADO, C.; MARTINHO, S.; AVANZI, C. Curtiu? O uso do Facebook nas eleições municipais de São Paulo em 2012. Anais do V Congresso da Compolítica, Curitiba-PR. 2013.

BRAGA, Sérgio; BECHER, A. O uso das mídias sociais é um bom preditor do sucesso eleitoral dos candidatos? Uma análise das campanhas on-line dos vereadores das capitais das regiões sul, sudeste e nordeste do Brasil no pleito de outubro de 2012. Anais do V Encontro Compolítica. Curitiba-PR, 2013.