Uma comparação entre o engajamento no Facebook e as pesquisas de intenção de voto

Rafael Linhares

Não é de hoje que compreendemos a importância e influência das mídias sociais no pleito eleitoral, seja como uma forma de promoção de candidatos com menor visibilidade pelas mídias tradicionais, ou como estratégia de comunicação direta com seu eleitorado. Como exemplo disso, temos a campanha presidencial estadunidense de 2008, onde destaca-se Barack Obama como um dos expoentes no uso das tecnologias digitais relacionadas à comunicação política (GOMES et al., 2009). Dessa forma, as recentes campanhas eleitorais brasileiras são marcadas pelo uso maciço da internet e, em especial, das mídias socias como ferramenta de propaganda entre os candidatos (BRAGA, CARLOMAGNO, 2018). Seu uso ganha cada vez mais importância, assim diversos estudos passam a ser realizados para mensurar o efeito das redes na opinião pública e com isso ter clareza das estratégias que cada candidato adota durante a campanha.

Dito isso, o presente comentário busca analisar, de forma comparativa, o uso do Facebook pelos candidatos à campanha presidencial de 2018 com as pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) nos dois turnos do pleito eleitoral, separando-os nos seguintes recortes: i) do início das campanhas até a ultima pesquisa IBOPE do primeiro turno; ii) do início das campanhas de segundo turno até o resultado das eleições.

Para isso, foram coletados dados do perfil de cada um dos 13 candidatos referentes aos recortes mencionados anteriormente, sendo o primeiro deles a partir do início oficial das campanhas, 16 de agosto de 2018, até a última pesquisa IBOPE da primeira parte do pleito eleitoral realizada no dia 6 de outubro e o segundo de 8 de outubro, início do segundo turno, até 28 do mesmo mês. A partir daí, são analisadas as informações referentes à última pesquisa IBOPE do primeiro turno, divulgada no dia 6 de outubro de 2018. Nela, o candidato Jair Messias Bolsonaro (PSL) apresenta um total de 41% nas intenções de voto, seguido pelo candidato Fernando Haddad (PT) com 25%, logo o candidato Ciro Gomes (PDT) com 13% e o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) com 8% das intenções de voto. Com isso, os candidatos João Amoedo (NOVO), Marina Silva (REDE), Álvaro Dias (PODEMOS), Cabo Daciolo (PATRIOTAS), Henrique Meirelles (PMDB), Guilherme Boulos (PSOL), Eymael (DC), João Goulart Filho (PPL) e Vera Lúcia (PSTU) tiveram, ordenadamente, entre 3% e 0% nas intenções de voto.

A partir dos dados obtidos por meio do software Netvizz, a primeira observação a se fazer é em relação à quantidade de posts feita por cada concorrente. O candidato do PT obteve o maior número de postagens: 362, seguido pelo candidato do PSDB com um total de 348 postagens, pelo candidato do PDT com 312 postagens e pela candidata da REDE com 290 postagens. Uma observação interessante é que o candidato mais bem posicionado nas pesquisas IBOPE, Jair Messias Bolsonaro, teve a menor quantidade de postagens entre os candidatos, com apenas 99 posts realizado no período. Como demonstrado no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Relação de postagens por candidato

Fonte: autor (2019).

Um dos achados a partir do cruzamento de dados dessas duas variáveis, total de postagens e percentual na pesquisa IBOPE, foi que não existe correlação entre postagens dos candidatos e sua posição na pesquisa IBOPE, em números: 0.0093 em uma escala onde 1 equivale a correlação perfeita, 0 equivale a não existência de correlação e -1 a uma correlação negativa.


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A partir do cruzamento de dados entre o engajamento e a pesquisa eleitoral foi notada a ocorrência de uma correlação positiva entre as duas variáveis, na mesma escala mostrada anteriormente, a correlação teve uma pontuação de 0.81, demonstrando que, para fins de comparação, quanto mais engajamento um candidato teve no Facebook, melhor o mesmo se saiu nas pesquisas eleitorais, como demonstrado no gráfico abaixo:

Gráfico 2 – Correlação entre pesquisa IBOPE e engajamento

Fonte: autor (2019).

Então, é possível notar que o candidato do PSL possui o maior engajamento (13.381.714), seguido pelo candidato do NOVO (8.817.826), logo pelo candidato do PT (5.944.831) e do PDT (3.000.451). Seria uma correlação perfeita entre os três mais bem colocados na pesquisa IBOPE se não houvesse a ocorrência do outlier João Amoedo, que, embora tenha feito apenas 3% na pesquisa IBOPE, teve um alto engajamento em seu perfil no Facebook durante a primeira parte do pleito.

Com o final do primeiro turno, os que continuam na disputa são os candidatos Fernando Haddad (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PSL). A partir dos dados coletados,foi possível perceber que novamente não existe relação direta entre a quantidade de posts que um candidato realiza no Facebook com seu desempenho em pesquisas eleitorais, uma vez que o candidato do PSL publicou, no decorrer do segundo turno, apenas 60 postagens e saiu vitorioso e o candidato do PT, fazendo 173 posts, foi derrotado. Entretanto, ainda é possível estabelecer uma relação entre o engajamento dos candidatos no Facebook e a pesquisa boca de urna do IBOPE que, em números gerais, representa o resultado da eleição. O gráfico abaixo representa os números totais de engajamento (curtidas, compartilhamentos e comentários) obtidos pelos candidatos no decorrer do segundo turno:

Gráfico 3 – Engajamento por candidato

Fonte: autor (2019).

Analisando o gráfico, notamos maior aproximação dos candidatos em relação ao engajamento do que no decorrer do primeiro turno, uma vez que na primeira parte do pleito eleitoral a diferença entre os mesmos candidatos era de 7.436.833 pontos de engajamento e no segundo turno essa diferença passa a diminuir, chegando a 1.199.946 pontos.

Referências

BRAGA, S.; CARLOMAGNO, M. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998-2016). Revista Brasileira de Ciência Política, 2017.

GOMES, W.; FERNANDES, B.; REIS, L.; SILVA, T. Politics 2.0: a campanha online de Barack Obama em 2008. Revista de Sociologia e Polítíca, v. 17, n.34, p. 29-45, 2009.