A relação entre participação feminina e partidos na distribuição de segmentos para o horário eleitoral

Andressa Butture Kniess e Nayane Pantoja Cardoso

Neste texto, vamos discutir algumas informações a respeito da participação das candidatas a deputadas estaduais pelo Paraná no HGPE de 2018.

A tabela 1 apresenta a relação entre as variáveis sexo e partido do(a) candidato(a) – o qui-quadrado comprova que há associação estatisticamente significativa entre elas e o V de Cramér mostra que essa associação é de 34%. Por meio dos resíduos padronizados, é possível observar como essas distribuições se manifestam em cada partido. Considerando um intervalo de confiança de 95%, são significativos os valores acima de 1,96 e abaixo de -1,96 (já realçados na tabela). Destaca-se que nossa unidade de análise é o segmento do programa. Ou seja, 76,2% dos segmentos do HGPE de 2018 referentes aos candidatos a deputados estaduais foram ocupados por homens. Massambani e Cervi (2011) mostram que, no caso dos candidatos a deputado federal, as mulheres ocupavam 7,6% dos segmentos em 2006 e 11,4% dos segmentos em 2010. Ou seja, a participação feminina no HGPE parece estar ganhando mais espaço ao longo dos anos.

Tabela 1 – Cruzamento entre as variáveis “Sexo” e “Partido”

Fonte: CPOP (2020).

Para melhor visualização dos resultados, iremos aglutinar os partidos em três blocos. 

O primeiro bloco consiste em partidos nos quais a proporção entre candidatos homens e mulheres no HGPE não possui grande discrepância. São 16 partidos com essa configuração: Partido Democrático Trabalhista (PDT), Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Rede Sustentabilidade (REDE), Podemos (PODE), Partido Social Cristão (PSC), CIDADANIA, Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Partido da Mobilização Nacional (PMN), Partido da Mulher Brasileira (PMB), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Partido Social Democrático (PSD), Partido Comunista do Brasil (PCdoB), AVANTE e Solidariedade (SD). Em todos esses casos, os resíduos padronizados não são significativos.

O segundo bloco é composto por partidos nos quais a participação feminina se sobressai. O REPUBLICANOS apresenta os maiores resíduos padronizados: há casos acima do que o esperado de segmentos com candidatas mulheres (Rp 5,91) e casos abaixo do esperado de segmentos com candidatos homens (Rp 3,30). Além disso, é o único partido que destinou mais de 50% de seus segmentos à participação feminina. O PT apresenta comportamento similar: há casos acima do esperado de segmentos com candidatas mulheres (Rp 3,79) e casos abaixo do esperado de segmentos com candidatos homens (Rp 2,12). O PP e DC também dão mais espaço à participação feminina quando comparados aos demais partidos. 

O terceiro e último bloco compreende os partidos nos quais as candidaturas femininas não conseguem exercer contraponto significativo em detrimento das candidaturas masculinas. Isto é, os seguintes partidos preferiram promover seus candidatos homens para o cargo de deputado estadual: PSL, PTB, PL, PV, PPL, PROS e DEM. Ressalta-se que PTB, PL, PMB, PV, PPL, PCdoB e SD não destinaram nenhum de seus segmentos a candidatas mulheres. E, de acordo com os resíduos padronizados, a maior disparidade ocorreu no caso do PSL: há casos abaixo do esperado de segmentos com candidatas mulheres (Rp 3,80) e casos acima do esperado de segmentos com candidatos homens (Rp 2,12).

Esses resultados confirmam os achados de Carvalho, Kniess e Fontes (2018) sobre as eleições paranaenses de 2014. As autoras demonstram que houve diferenças significativas entre os partidos no que diz respeito à participação feminina no HGPE proporcional.

A tabela 2 mostra as cinco mulheres candidatas à vaga de deputada estadual que ocuparam dez ou mais segmentos no HGPE de 2018. Com exceção da Dra. Alaerte Martins (PT), todas as candidatas já ocupavam cargos eletivos. Maria Victoria (PP) concorria à reeleição, além de ser a atual presidente do Progressistas no Paraná. Isabel Baran (então REDE) é vereadora do município de Fazenda Rio Grande – atualmente filiada ao PODEMOS. Cristina Silvestre (CIDADANIA) foi Secretária Municipal de Guarapuava e, em 2018, também concorria à reeleição. Roseli Isidoro (PDT) foi vereadora de Curitiba entre 2003 e 2008. Durante a gestão de Gustavo Fruet (PDT), atuou na Secretaria Municipal da Mulher. Somente Maria Victoria e Cristina Silvestre foram eleitas.

Tabela 2 – Mulheres com 10 segmentos ou mais

Fonte: CPOP (2020).

Destaca-se que, dentre os 27 partidos, menos de um terço disponibilizou dez segmentos ou mais para candidatas de mulheres. Em contrapartida, 19 homens receberam tal espaço no HGPE: André Bueno (PSDB), Artagão Jr. (PSB), Beto Lunitti (MDB), Cristiano Santos (PV), Elio Rusch (DEM), Evandro Junior (PSDB), Goura (PDT), Jonas Guimarães (PSB), Julio Kuller (MDB), Marcio Pacheco (PPL), Nereu Moura (MDB), Paulo Litro (PSDB), Pier (PTB), Professor Marcelo (REDE), Professor Lemos (PT), Renato Freitas (PT), Requião Filho (MDB), Tadeu Veneri (PT), Tião Medeiros (PTB).

Referências

CARVALHO, F. C. de; KNIESS, A. B.; FONTES, Giulia Sbaraini. As candidatas no HGPE proporcional no Paraná: a representação feminina na campanha televisiva para a Câmara Federal em 2014. Estudos em Comunicação, v.1, n. 23, 2016.

MASSAMBANI, A. C., CERVI, E. U. A participação das mulheres no HGPE proporcional: uma análise comparativa das campanhas para deputado federal no Paraná em 2006 e 20101. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, Londrina, 26 a 28 de maio de 2011.