Uma breve discussão sobre as diferenças entre a produção noticiosa e opinativa de instituições jornalísticas e a importância que assumem para o regime democrático

Deivison Santos

Pesquisas recentes têm buscado debater as principais preocupações que circundam os estudos sobre Comunicação e Política em diferentes regiões do mundo, evidenciando problemáticas contemporâneas que cerceiam o contexto político e social de uma profusão de países (VAN AELST et al., 2017).  Um dos fatores que atualmente desperta o interesse de certos segmentos sociais é a desconfiança e perda de credibilidade de determinadas instituições do campo da comunicação, como jornais e portais noticiosos – desconfiança essa associada, em parte, às frequentes contestações acerca da legitimidade dessas empresas em oferecer informações de boa qualidade.

No Brasil não é diferente. Ao longo dos anos, os meios de comunicação têm perdido a confiança da população. O cenário é ilustrado pelo gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Percentual de pessoas que confiam nos meios de comunicação no Brasil

Fonte: autor (2019), a partir de dados do Ibope Inteligência (2018).


A produção noticiosa é permeada por um conjunto de fatores que influem sobre o comportamento dos agentes vinculados aos meios de comunicação, a medida que cada organização define quais procedimentos serão adotados em suas redações e quais assuntos terão posição privilegiada, de acordo com parâmetros profissionais pré-estabelecidos. Todavia, alguns aspectos são rotineiros em quase todas as empresas. Algumas caraterísticas que se vinculam a rotina de produção de notícias (e aos critérios de noticiabilidade) são, por exemplo, a relevância dos atores envolvidos em um determinado acontecimento, a atualidade dos assuntos, o grau de impacto gerado a partir de certas decisões, a objetividade e imparcialidade no trato das questões e a veracidade dos fatos (ALDÉ et al., 2005).

Por sua vez, o processo de produção de opiniões também possui suas particularidades. A produção opinativa dos jornais pode se dar de diferentes formas, seja através do oferecimento de espaços eventuais (artigos) ou fixos (colunas) para agentes políticos e sociais manifestarem suas posições, ou por meio de editoriais, que são os espaços legítimos para as instituições jornalísticas se posicionarem por meio de textos não assinados que destacam a opinião da empresa (ALVES FILHO, 2006).

A partir disso, percebe-se que os veículos de comunicação – a exemplo dos jornais digitais e impressos – tanto ofertam informações sobre temas que atendam a certos critérios de valoração quanto também publicam opiniões de atores políticos e sociais ou de sua própria autoria, enquanto instituições dotadas de interesses particulares. Entretanto, a clara separação entre ambas as seções é uma das exigências e singularidades que diferem o jornalismo profissional da imprensa puramente partidária de tempos anteriores (MARQUES et al., 2014).

De todo modo, o que se pretende dizer é que, muito mais do que meras fontes de informações (que, aliás, seguem critérios específicos), as instituições jornalísticas possuem a prerrogativa de disponibilizar um espaço de confronto de ideias (FERREIRA, 2011). Além disso, as mesmas empresas também podem, de forma legítima, manifestar suas próprias opiniões sobre assuntos que estejam em debate na arena pública. Desse modo, os veículos de comunicação podem oferecer mecanismos para a discussão de assuntos públicos (seja informando ou disponibilizando orientações interpretativas), contribuindo, eventualmente, com a fiscalização de agentes políticos e até mesmo diminuindo a distância entre representantes e representados (GRABER, 2003).

Obviamente, a existência de tais possibilidades não garante que elas sejam efetivadas ou que os critérios exigidos sejam rigidamente cumpridos em todas as ocasiões. Do mesmo modo que os meios de comunicação podem fortalecer sistemas democráticos, também podem ser parcialmente responsáveis pela sua decadência. Não obstante, a existência de uma imprensa livre e com um mínimo de credibilidade e legitimidade é uma das premissas elementares para uma boa democracia. A excessiva desconfiança e desinformação acerca da atuação desses agentes pode trazer consigo prejuízos ao regime democrático. Em decorrência disso, compreender melhor as dinâmicas do jornalismo pode ser uma atividade essencial para se evitar posições equivocadas, ou mal informadas, sobre os meios de comunicação e os parâmetros que regem a atividade dos profissionais de imprensa.

Referências

ALDÉ, A. et al. Critérios jornalísticos de noticiabilidade: discurso ético e rotina produtiva. Alceu, v. 5, n. 10, p. 186-200, jan./jun., 2005.

ALVES FILHO, F. A autoria institucional nos editoriais de jornais. Alfa, São Paulo, v. 50, n. 1, p. 77-89, 2006.

GRABER, D. The media and democracy: beyond myths and stereotypes. Annual Review of Political Science, v. 6, p. 169-160, jun. 2003.

MARQUES,
F. P. J. A. et al. Jornalismo, assessoria de imprensa e seus
condicionantes organizacionais: uma reflexão a partir das teorias do jornalismo.
Revista Interamericana de Comunicação Midiática
, Animus, Santa Maria,v.
13, n. 25, p. 145-166, 2014.

FERREIRA, G. B. Jornalismo Público e Deliberação: Funções e limites do jornalismo nas democracias contemporâneas. Estudos em Comunicação, n. 9, p. 61-79, 2011.

VAN AELST, P. et al. Political communication in a high-choice media environment: a challenge for democracy? Annals of the International Communication Association, v. 41, n. 1, p. 3–27, 2017.