Os programas dos postulantes de direita Ogier Buchi (PSL) e Geonísio Marinho (PRTB)

Rafael Linhares e Afonso Verner

A comunicação de massa e os meios de comunicação desempenham um importante papel nos modelos democráticos modernos, com eles, a aproximação entre governantes e governados é cada vez mais nítida e os processos de escolha cada vez mais transparentes. Anteriormente, o foco dos agentes políticos era em propor uma agenda consistente de propostas a serem seguidas a partir da vitória eleitoral, hoje, entretanto, o que se nota é um foco maior na imagem passada pelos agentes do que propriamente em propostas (MANIN, 1995). Isso mostra que, mesmo que ainda haja a preocupação do ator político em demonstrar ao eleitor suas propostas, é mais vantajoso utilizar estratégias de gerenciamento de imagem para angariar votos. Então, as campanhas eleitorais tem por objetivo convencer o eleitor a votar em candidato “x” e a não votar em candidato “y”, no qual o campo de batalha encontra-se nos diversos veículos de mídia conhecidos (FIGUEIREDO, 1997, pg. 183).

Dito isso, o presente comentário busca analisar de que forma os candidatos considerados nanicos, na posição de direita, a governador do Paraná em 2018 articulam suas estratégias discursivas no HGPE. Para isso foram utilizadas bases de dados coletados, por meio de análise de conteúdo dos programas eleitorais, conjuntamente pelos integrantes do grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP) e em seguida os dados foram rodados no software R.

Assim, foram analisados dados sobre programas eleitorais de dois dos nove candidatos a governador do Paraná referentes aos recortes mencionados anteriormente, são eles: Ogier Buchi (PSL) e Geonísio Marinho (PRTB). Em uma primeira análise, o que se demonstra é uma presença maior da variável “Imagem do candidato” nos segmentos dos programas analisados. Como demonstra a tabela abaixo:

Tabela 1 – Objeto/Tema por candidato

Fonte: CPOP (2019).

O candidato Ogier Buchi apresenta 12 dos 18 segmentos do programa analisados referentes à “Imagem do candidato”, em percentuais a variável apresenta 66,7% de aparição no total dos programas seguido por “Imagem do partido”, com 16,7%, “Meta Campanha: Pedagogia do voto”, com 11,1% e “Imagem do eleitor”, com 5,6%. Geonísio Marinho também apresenta um alto percentual da variável “Imagem do candidato”, dos 17 segmentos do programa analisado, 11 foram relacionados à sua imagem, em percentuais 64,7%, seguido de “Meta campanha: Apelos ao engajamento do eleitor” com 29,4% e “Segurança Pública” com 5,9%. As informações acima corroboram com a afirmativa exposta anteriormente, uma vez que os dados demonstram o uso maior da imagem dos candidatos em função da apresentação de propostas como tema principal. Isso também se deve ao fato de que quando olhamos para os candidatos nanicos, os mesmos possuem menor tempo de Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), uma vez que eles, via de regra, estão filiados a partidos pequenos que possuem poucos representantes na Câmara de Deputados e, consequentemente,  menor tempo de televisão (LEI Nº 9504, 1997), fazendo com que eles não tenham tempo hábil para apresentar suas propostas ao público e tenham que se ancorar no gerenciamento de sua imagem.

Com isso, ainda é possível analisar, para além do objeto e do tema, as estratégias de discurso dos candidatos pelas variáveis a seguir: i) uso do cargo; ii) postura acima da briga; iii) associação  à adm. em disputa; iv) associação à administração de outra esfera; v) endosso de lideranças políticas; vi) endosso de lideranças da sociedade civil organizada; vii) endosso do patrono, viii) menção ao partido coligação; ix) apelo a mudanças; x) ofensiva quanto a temas; xi) ataque à adm. em curso, xii) ataque a adversário. No programa do candidato Geonísio Marinho, a maioria das variáveis dos 17 segmentos analisados corresponderam à ausência das mesmas, com exceção de “postura acima da briga”, que a ocorrência apareceu em toda a análise. Em relação ao candidato Ogier Buchi, a distribuição das variáveis foi diferente, como demonstra o gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Frequência de presença das variáveis nos segmentos

Antes de analisar o gráfico, é interessante colocar que existe a possibilidade de mais de uma variável aparecer no mesmo segmento quando, por exemplo, em determinado segmento, o candidato expressa apelo à mudança e em seguida menciona seu partido, outro ponto a se colocar é que o gráfico acima contempla apenas as variáveis que apresentam diferença entre presença e ausência. Dito isso, ao observar o gráfico que mostra a distribuição de variáveis presentes no programa do candidato, é possível localizar duas variáveis que possuem maior presença: postura acima da briga e menção ao partido.  Isso significa que, em linhas gerais, o candidato buscou na maior parte de seu programa manter-se a cima da briga, ou seja, não atacar e nem se defender de adversários. Outro ponto que se destaca é a menção ao partido, que apresentou segunda maior presença no programa do candidato, o fato provavelmente se deve pela tentativa dos candidatos de ligar sua imagem ao partido (PSL) nas eleições de 2018, por conta da alta popularidade do seu candidato à presidência da república. Nas variáveis seguintes, a ausência foi maior que a presença nos segmentos, isso deve-se ao fato de que os candidatos nanicos possuem pouco tempo de HGPE, como mencionado anteriormente.

Apostar na imagem própria do candidato, ao que parece, tem sido a principal estratégia das campanhas eleitorais modernas, seja apresentando-se como digno de receber o voto do eleitor por atributos pessoais, seja ligando sua imagem ao partido ou a outros atores políticos populares. Para candidatos pouco expressivos que pleiteiam algum cargo majoritário na política a decisão, ao menos no Paraná, é investir o pouco tempo que possuem em seu gerenciamento de imagem.


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Atacar ou não? O comportamento dos presidenciáveis no HGPE de 2018


Referências

FIGUEIREDO, M, et al. Estratégias de persuasão eleitoral: uma proposta metodológica para o estudo da propaganda eleitoral. Opinião Pública, Campinas, v. IV, n. 3, novembro, 1997.

MANIN, B. As metamorfoses do governo representativo. Revista brasileira de Ciências Sociais. v.10 n.29 São Paulo out. 1995.

LEI Nº 9504. TSE: legislação, 1997. Disponível em: <www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-das-eleicoes/lei-das-eleicoes-lei-nb0-9.504-de-30-de-setembro-de-1997>. Acesso em: 03/11/2019.