Diferenças observadas a partir dos comentários nas fanpages dos candidatos a prefeito.
(Post de 28/04/2017 migrado do antigo site do CPOP)
Com advento das redes sociais, as interações entre públicos e produtores de informações e conteúdos se estreitaram. É possível curtir, comentar, criticar e reeditar o que já foi dito, em um período muito curto de tempo. O Jornalismo e as outras atividades de comunicação, finalmente, conseguiram aquilo que tanto almejavam: a Interatividade. Essa nova realidade participativa nos conteúdos de informação pode ser explicada pela Teoria do Gatewatching, no sentido de se avaliar a resposta por parte dessas audiências, uma vez que a Resposta é definida por Bruns (2011) como uma das etapas distintas do processo jornalístico das práticas Gatewatching.
No cenário eleitoral, essa interatividade é ainda mais perceptível, cada vez mais o indivíduo tem a necessidade de se expressar, emitir opinião a respeito de algum assunto e aliado a uma crise política nacional, é de se esperar que nas eleições, o aumento dessas audiências ocorra naturalmente, como é o caso das eleições municipais de Curitiba, em 2016. Wilson Gomes (2004) chama este processo de “Formação de Audiências” e ressalta que estratégias políticas desenvolvidas com recursos e dispositivos de comunicação, possuem foco nos públicos que constituem audiências, sendo: “A suposição dominante é de que as audiências podem ser convertidas em eleitores, nos períodos eleitorais, e em opinião pública favorável, no jogo político regular” (GOMES, 2004, p.32).
Enfim, adentramos a seara da Opinião Pública, que em suas análises deve se considerar inúmeras variáveis que poderiam interferir nesta “Opinião”. Portanto, como descreve Patrick Champagne (1996), a opinião pública é um poder anônimo que pode vir a se transformar em “força política”, pois sendo favorável ou desfavorável, é imprescindível na legitimação ou não de um candidato político.
Observamos aqui um total de 101.273 comentários, todos realizados em postagens nas páginas dos candidatos a prefeitura de Curitiba durante as eleições de 2016. Eles foram submetidos a uma análise de conteúdo, a partir da leitura sistemática para extração de partes representativas dos textos, que permitem a redução dos dados para estruturas de conteúdos representativos (Alonso, 2012). A metodologia aplicada aqui concentra-se na observação de termos/palavras isolados, medindo a presença total (número de citações do termo/palavra) e a presença relativa.
O resultado da aplicação desa método liga determinou 22.981 comentários que apresentavam termos/palavras que se concentram em torno de 7 categorias. O gráfico a seguir mostra as distribuições desses comentários que apresentam presença de conteúdo temático dentre esses sete diferentes conjuntos.
Gráfico 1 – Temas em comentários nas fanpages dos candidatos
O principal tema citado é a infraestrutura, que concentra 23,89% dos comentários temáticos, revelando que as pessoas que tem um comportamento participativo na campanha eleitoral online estavam preocupadas com o espaço público da cidade. Principalmente, demonstravam insatisfação com a gestão do candidato a reeleição Gustavo Fruet e muitos desses comentários tinham caráter crítico e de questionamento.
Mas passando para dimensão central do gráfico, encontramos os grupos temáticos que muitas vezes são os principais assuntos debatidos pela população. Temas como educação, transporte público, segurança e saúde tem destaque em pesquisas de opinião pública devido a sua relevância no cotidiano dos indivíduos. Porém, os números gerados aqui demonstram que o comportamento online tem uma precupação diferente, mais ligada com o temas já citado anteriormente de infraestrutura, junto com gestão pública que tem 20,8% dos comentários temáticos.
Para exemplificar melhor essa diferença, trazemos aqui um gráfico gerado por dados resultantes de uma pesquisa de opinião pública do Ibope para as eleições de 2016 encomendada pela empresa Rede Massa.
Gráfico 2 – Principais temas para Curitiba na Opinião Pública
No gráfico 2, percebemos como dentro de uma pesquisa de opinião pública existe uma superior menção a saúde, seguida pela segurança. Claro que a metodologia utilizada na produção dos dois gráficos é diferente, principalmente que em uma pesquisa de opinião pública as alternativas são apresentadas aos indivíduos respondentes e nos comentários feitos no Facebook as pessoas não tinham nenhum tipo de indução às temáticas. Entretanto, a grande diferença de assuntos importantes entre as duas pesquisas revela uma heterogenia entre o comportamento político online ativo e a população no geral.
A saúde concentra quase 45% da opinião pública como o grande problema da cidade, enquanto para os comentadores online esse tema só é mais relevante que o debate entre táxi e uber. A literatura sobre comportamento político nos indica que muito da diferença entre o “online” e o “offline” se dá pelas diferenças sociais que facilitam para uns o acesso a internet e informações. Então, a classe social e nivel de instrução influênciam diretamente no comportamento dos individuos na web. Se a diferença entre os comentários e a opinião pública é tão dispare, estaria a cidade passando por um momento de grande diferença social ou apenas o eleitor curitibano no geral não demonstra engajamento político online?
REFERÊNCIAS
ALONSO, Sonia et al. Análisis de contenido de textos políticos. Un enfoque cuantitativo. Madrid: Centro de investigaciones Sociológicas, 2012.
BRUNS, Axel. Gatekeeping, gatewatching, realimentação em tempo real: novos desafios para o Jornalismo. Brasilian Journalism Research, vol. 7, num. 11. Brasília: SBPJor, 2011.
CHAMPAGNE, Patrick. Formar a Opinião Pública – O novo jogo político. Editora: Vozes, 1996.
GOMES, Wilson.Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa. Editora: Paulus, 2004.
IBOPE 2016. Disponivel em: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/pobres-dizem-que-saude-e-maior-problema-em-curitiba-mais-ricos-dizem-ser-a-seguranca/ . Acessado 25/04/2017.
