Dados sobre a presença, citação e valência desse tipo de campanha nos programas dos candidatos a Deputados Federais pelo Paraná

Inaiara Ferreira e Camilla Gonda

O horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE) é o espaço para exposição dos candidatos políticos à sociedade. O candidato faz uso de estratégias variadas conforme sua conveniência, uma vez que dirige seu discurso e perfil a um público alvo previamente definido e surge seu direito subjetivo por tratar-se de sua imagem e seu contexto, assim, tem liberdade para definir seus códigos de comunicação, contudo, respeitando os limites jurídicos.

Observa-se, entretanto, o sistema complexo de busca de votos com a formação da imagem do candidato, o alinhamento partidário e os interesses políticos, espaço onde candidatos majoritários poderiam ter seus interesses prevalecidos em detrimento das candidaturas proporcionais.

Essa influência recebe vedação jurídica: o uso do horário eleitoral gratuito destinado aos candidatos às eleições proporcionais (vereadores e deputados) por candidatos às eleições majoritárias (prefeitos, governadores, presidente e senadores) é vetado pela resolução nº 23.610, de 18 de dezembro de 2019, art. 73 (TSE, 2019).

Contudo, o próprio contexto do mundo político, suas dinâmicas e evoluções permitem resoluções e jurisprudências em cada ano eleitoral: o parágrafo 1º da resolução 23.610, permite que os candidatos peçam votos uns para os outros, desde que pertençam ao mesmo partido ou coligação e que o tempo não exceda 25% do tempo da propaganda (TSE, 2019).

Neste texto, analisamos o HGPE dos candidatos a deputado federal pelo estado do Paraná em 2018, verificando a presença de campanha majoritária no espaço dos candidatos proporcionais. Os dados foram coletados pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP). Fazendo a divisão dos segmentos, onde cada segmento representa uma fração da propaganda ou ela mesma num determinado período, analisamos se houve a utilização da mesma para campanha majoritária ou menção direta a algum candidato às eleições majoritárias. Depois disso, havendo a menção, classificamos se ela é positiva, tratando-se geralmente de um aliado, negativa, quando fala do candidato da oposição, ou neutra. O uso do horário para a campanha majoritária está descrito na Tabela 1, a menção aos candidatos na Tabela 2 e a valência da menção (quando há) na Tabela 3.

De acordo com Aldé, Mendes e Figueiredo (2007), as valências podem ser positivas, negativas ou neutras. Quando estamos diante de uma valência positiva, pode-se observar o candidato reproduzindo matérias favoráveis aos majoritários, valência negativa com matérias desfavoráveis e valência neutra com matérias sobre agenda do candidato e citações sem avaliações morais. Ainda, caso exista equilíbrio entre essas valências, positiva e negativa, o resultado também é neutro. Pela tabela 1, notamos que em pouco mais de 2% dos casos do HGPE foi utilizado para fazer propaganda dos candidatos ao governo do Estado, Senado ou presidência da República.

Tabela 1 – Uso do espaço para campanha majoritária

Fonte: CPOP (2020).

Na tabela 2, vemos que pouco mais de 5% dos programas proporcionais apresentam alguma citação aos candidatos a eleições majoritárias. A diferença desse caso para o caso anterior é que a menção ao concorrente do pleito majoritário é feita pelo candidato à eleição proporcional. Já no uso, quem surge em tela é o próprio candidato majoritário.

Tabela 2 – A citação a candidatos de eleição majoritária

Fonte: CPOP (2020).

Quando há presença de citação, esta tende a ser positiva ou neutra, sendo negativa numa parcela muito menor, conforme mostra a Tabela 3. A citação neutra, em que não há críticas ou elogios ao candidato da eleição majoritária, foi encontrada em mais da metade dos segmentos analisados.

Tabela 3 – A valência da citação ao candidato da eleição majoritária

Fonte: CPOP (2020).

Os candidatos às eleições majoritárias podem exercer o papel de fiadores do mandato (DE PAULA, 2011), ou seja, uma figura que garante ao eleitor que o político da campanha em questão é uma boa escolha. No entanto, durante a campanha de 2018 no Paraná, no caso específico dos deputados, este não foi um recurso muito utilizado, aparecendo na minoria dos casos.

Percebe-se que não foi comum o uso do horário eleitoral gratuito dos candidatos a Deputado Federal do Paraná para realização de campanha majoritária. Também não é comum a citação dos candidatos a Governador ou Presidência. Ou seja, não é estratégia comum que os candidatos a deputado se associem ou teçam críticas a esses outros candidatos, realizando sua campanha na maior parte do tempo de maneira individual e neutra em relação as outras esferas. Em síntese, constata-se a importância da pesquisa constante do HGPE apurando a justaposição dos candidatos sobre a influência de seus alinhamentos políticos aos candidatos majoritários.

Referências:

ALDÉ, A.; MENDES, G.; FIGUEIREDO, M. F. Imprensa e eleições presidenciais: natureza e conseqüências da cobertura das eleições de 2002 e 2006. In: LIMA, V. (org.). A mídia nas eleições de 2006. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2007.

CERVI, E, U. O uso do HGPE como recurso partidário em eleições proporcionais no Brasil: um instrumento de análise de conteúdo. Opinião Pública, v. 17, n. 1, 2011.

DE PAULA, C. As múltiplas faces da representação política senatorial durante o HGPE 2010 do Rio de Janeiro. In: XXI ENCONTRO ANUAL DA COMPÓS. Juiz de Fora, 2012.

TSE, Resolução Nº 23.610, De 18 De Dezembro De 2019.