Uma análise dos embates anteriores ao primeiro turno do pleito
Desde a redemocratização, a nova relação mídia/política e a notoriedade que as personalidades ganham no âmbito das campanhas eleitorais têm se aperfeiçoado, principalmente para fazer frente à crescente influência das mídias sociais. Nesse sentido, os debates televisivos mantêm-se como pauta primordial das estratégias de comunicação política (LOURENÇO, 2010). Os debates devem ser fonte de informações da elite política na disputa eleitoral. Neles, os concorrentes devem estar atentos aos novos contextos políticos e desafios, a fim de se apresentarem com discursos que melhor propaguem conteúdos políticos para uma audiência direta (VASCONCELLOS, 2017).
Na campanha majoritária para presidente em 2018, as formas de apresentação dos candidatos nos debates televisivos tiveram que se adequar ao menor tempo de exposição dos candidatos (exigência legal) e ao fato inusitado do atentado contra a vida de um dos presidenciáveis – em setembro de 2018, Jair Bolsonaro levou uma facada durante evento de campanha em Minas Gerais –, sem falar na influência das mídias sociais, que têm concorrido pela divulgação das informações políticas.
Diante disso, analisar e medir as formas como os candidatos expõem suas ideias ao telespectador/eleitor nos debates televisivos traz contribuição primordial para verificar a relevância dessas ferramentas de campanha no processo comunicacional, principalmente em momentos singulares como foi o de 2018. Assim, este post traz alguns dados sobre as retóricas utilizadas pelos presidenciáveis durante os debates veiculados antes do primeiro turno do pleito. Segundo o livro de códigos formado pelo CPOP, essa variável tem cinco categorias: (1) sedução, quando o candidato apela para a conquista do eleitor ao citar aspectos de sua vivência; (2) proposição, quando o postulante apresenta, descreve e detalha propostas de políticas públicas; (3) crítica, quando há predominância do tom negativo na fala; (4) valores, quando a fala se baseia em valores morais da sociedade e da política; e (5) ameaça, quando o tom crítico se transforma, explicitamente, em predições de um futuro negativo.
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A tabela a seguir apresenta o desempenho retórico dos candidatos à presidência da república nos debates anteriores ao primeiro turno de 2018. A coleta dos dados foi feita pela equipe do CPOP e os programas analisados correspondem aos veiculados em sete emissoras de TV diferentes.
Tabela 1 – Variável “retórica” por emissora
Os resultados indicam que, na forma de os candidatos expressarem suas ideias (variável “retórica”) houve prevalência da categoria “crítica”, ou seja, o somatório geral das expressões críticas dos candidatos nos embates com os adversários somou 307 ou 38,6%, expressões críticas, que são aquelas que contêm predomínio de tom negativo.
Um dado que chamou a atenção foi o da categoria “valores” por ter estado menos presente nos debates mais próximos ao atentado contra Bolsonaro, ocorrido em 6 de setembro de 2018. Uma abrupta redução de 34,8% no debate de 17 de agosto de 2018 na REDE TV para 8,7% no debate de 9 de setembro de 2018 da TV GAZETA, no entanto o seu somatório foi de apenas 23 ou 0,6% ao final de todos os debates da campanha naquele período anterior ao primeiro turno. As categorias de “sedução” e “proposição” tiveram os somatórios de 234 ou 29,4% e 226 ou 28,4% expressões, respectivamente.
A análise dos dados mostra que os debatedores utilizaram todos os recursos retóricos, apropriados a cada embate, para transmitir as suas ideias aos telespectadores/eleitores e por conseguinte conquistarem a atenção dos mesmos e persuadirem o voto para si, em um cenário singular de campanha. Os resultados obtidos comprovaram que, independentemente da atipicidade do pleito de 2018, a gramática eleitoral nos debates televisivos manteve a finalidade de mostrar os presidenciáveis em suas performances durante os embates, transmitir informações da elite política, bem como a afirmar relevância desses eventos no âmbito do processo comunicacional de campanha. Os debates televisivos mantiveram a sua instrumentalidade no repasse de informações da elite política e garantindo a visibilidade dos candidatos concorrentes ao cargo de presidente.
Referências
LOURENÇO, L.C. Na tela e nas urnas: novas evidências da influência dos debates e da propaganda eleitoral do voto presidencial em 1989. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 34, 2010. Anais do 34º Encontro Anual da Anpocs. Caxambu: Anpocs, 2010.
VASCONCELLOS, F. Do confronto à Conciliação: Debates Presidenciais na TV como eventos persuasivos de Campanha. In: ALDÉ, A.; BORBA, F. (Orgs.). Eleições, Opinião Pública e Comunicação Política no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora UERJ, p. 455-479, 2017.
